domingo, 16 de maio de 2010

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 63




OS VAPORES “SANTA IRENE”, “NEREIDE” e “PASAJES” SOFREM INCIDENTES NA BARRA



SANTA IRENE / (c) colecção F. Cabral /.


A 14/03/1931, pelas 09h00, foi içado nos mastros do castelo da Foz e do cais do Relógio o grupo de bandeiras indicativo do calado de água de 13 pés e como tal o vapor Norueguês TEJO, piloto Francisco Luis Gonçalves, foi o primeiro a fazer-se à barra seguido do Português SANTA IRENE, piloto Pedro Reis da Luz. Este quando alcançou o lugar da Meia Laranja, devido ao Cabedelo estar espraiado a Norte, esganando o canal de navegabilidade e dando origem a uma mais forte corrente de águas de cima no local, acabou por estancar.

Aquele vapor, que era de mau governo e pouca marcha, não conseguindo vencer a corrente, chamou as lanchas P5 da Cantareira e a P1 de Leixões, que se encontrava junto da barra, afim de pegarem à proa numa tentativa de ultrapassar a situação, não o conseguindo as lanchas largaram os cabos e o SANTA IRENE deixou-se arriar para fora da barra, a fim de aguardar a vinda de um rebocador. Entretanto, passaram a barra os seguintes vapores: Holandês THESEUS, piloto Delfim Duarte; Francês PENHIR, piloto José Fernandes Tato e o Italiano NEREIDE, piloto Manuel Fernandes Vieira.

O NEREIDE chegado a meio do cais Velho guinou a bombordo, pelo que o piloto mandou lançar o ferro de estibordo e vendo que o vapor não obedecia ao leme, mandou lançar também o ferro de bombordo e depois de aproar à água, mandou virar este último ferro, tendo o vapor ficado atravessado de proa para Sul e ainda com o ferro de estibordo por suspender, tendo ido para cima da restinga do Cabedelo e largado aquele ferro por mão, ficando meio encalhado na areia, todavia com o auxilio da própria máquina a trabalhar de toda força à ré, passado algum tempo, conseguiu safar-se e sair a barra ficando a aguardar ocasião para nova investida.



NEREIDE / (c) foto de autor desconhecido /.


Na ocasião do incidente com o NEREIDE, vinha rio abaixo o rebocador NEIVA e ainda o RECORD, este conduzindo uma fragata, tendo-a largado e deixado fundeada diante de Sobreiras, a fim de ir auxiliar o vapor em dificuldades. Da Cantareira saiu a lancha P5 levando a bordo os pilotos Júlio Pinto de Carvalho, João Pinto de Carvalho, Francisco Piedade, Joaquim Matias Alves e o motorista José da Quinta, que chegados junto do SANTA IRENE e do NEREIDE, conferenciaram com os seus colegas, que estavam a bordo daqueles dois vapores e foram de opinião, que deveriam demandar a barra auxiliados por rebocador. Regressados à Cantareira comunicaram do sucedido ao piloto-mor Francisco Rodrigues Brandão, que mandou o rebocador LUSITÂNIA, pairando fora da barra, pegar no SANTA IRENE, que se fez, novamente à barra e desta vez sem qualquer percalço, largando o rebocador nas bóias da Cantareira, seguindo-se-lhe o Dinamarquês AGGA, piloto Carlos de Sousa Lopes e de novo passa a barra o NEREIDE conduzido pelo rebocador RECORD até alcançar as ditas bóias, largando a amarreta e indo rio acima sem mais problemas.

Devido à intensidade da corrente ter aumentado, foi interditada em reunião de consulta de pilotos na Cantareira a entrada do inglês OTTINGE, piloto José Jeremias dos Santos acompanhado do praticante António Duarte, o qual arribou ao porto de Leixões para se abrigar do mau tempo e aguardar melhores condições de acesso à barra do Douro. O rebocador RECORD, após ter largado o vapor NEREIDE, pegou novamente na fragata e saiu a barra rumo ao porto de Lisboa.



PASAJES / (c) OPDR /



A 15/03/1931, pelas 12h30, o vapor Alemão PASAJES da OPDR, Hamburgo, piloto António Gonçalves dos Reis tendo a seu lado o praticante António Duarte, ao passar diante do cais do Touro, devido à usual corrente de águas de cheia, vinda rio abaixo, desgovernou para bombordo, pelo que aquele piloto mandou lançar o ferro de estibordo e máquina de marcha à ré, a fim de aguentar a estocada, contudo nada lhe valendo essa rápida manobra, que não evitou a proa encostar ao enrocamento daquele paredão. Passado algum tempo e depois de realizar várias manobras, endireitou proa ao canal, deixando o ferro por mão, seguindo rio acima até amarrar no lugar do Quadro da Alfândega, sem mais novidade.

SANTA IRENE – 50m/443tb/8 nós; 04/1921 entregue pelo estaleiro Gebr. Fikkers Bros., Martenshoek, como B.W.F. ao armador Gebr, Fikkers Bros., Groningen; 1923 B.W.F. alongado para 53m/520tb; 1924 AGNES KOLNN, Rederi Kolln, Alemanha; 1928 ANGELN, Rederi R. Bornhofen, Hamburgo; SANTA IRIA, Emp. Veleira de Transportes, Lda., Lisboa; 1930 SANTA IRENE, Empresa Industrial Portuguesa, Lda., Lisboa; 12/04/1943Atacado barbaramente e afundado pelo submarino HMS TAURUS, Lt. Cdr. Merwyn R.C. Wingfield, D.S.O., R.N.J., entre AS Ilhas de Elba e Córsega, tendo perecido 17 tripulantes e um passageiro, O único sobrevivente foi encontrado agarrado a destroços por um navio hospital Italiano da “Regia Marina Italiana”.

NEREIDE – 82m/1.598tb/10,5nós; 21/02/1900 entregue pelo estaleiro Rickmers Akt. Ges., Bremen, como SHANTUNG à Reismuschlen Rhederei & Schiffbau AG., Bremerhaven; 10’1 SHANTUNG, Nordeutscher Lloyd, Bremen; 1911 MARAS, Lim Apat, Muntok, Indomesia; 1913 MARAS, Sumatra Banka Stoomvaart Mij., Muntok, Indonesia; 1918 MARAS, British Government; Londres; 1919 MARAS, Sumatra Banka Stoomvaart, Mij,, Muntok, Indonesia; 1919 MARAS, Afscheeoen Commissioners v/h J.F. Esser, Pasoerden, Indonesia; 1925 NEREIDE, SA di Navigazione Neptunia, Genova, Italia; 1937 SPORTIVO, Achille Lauro, Napoles, Italia; 18/01/1943 SPORTIVO, como navio auxiliar da “Regia Marina Italiana”, torpedeado e afundado pelo submarino HMS UNSEEN, LtM.L.C. Crawford, DSC, RN, 5 milhas a Norte de Zuala, Libia, em viagem de Tripoli para Trapani.

PASAJES – 83m/1996tb/13nós; 13/07/1923 entregue pelo estaleiro Schiffswerft u. Maschinenfabrik (Jansen & Schmilinsky), Hamburg, ao armador OPDR – Oldenburg Portugiesische Dampfschiffs Rhederei, Hamburgo; 1939 no eclodir do conflito encontrava-se surto na Alemanha, tendo sido requisitado pela governo para fazer face ao esforço de guerra; 1941 em Lofoten foi atacado e afundado por um contra-torpedeiro da “Royal Navy”; 1945 Posto a flutuar e reparado em Frederikshaven; 11/05/1945 entregue ao Aliados em Methil, Fife, como reparação de guerra tomando o nome de EMPIRE RHONDA, MOWT, Londres, Operadores Kaye, Son & Kaye, Ltd; 14/02/1946 HENRI BARBUSSE, Sovtorgflot, USSR; 1968 excluído do LR.

Fontes: José Fernandes Amaro Júnior, Oldenburg Portugiesische Dampfschiffs Rhederei – Reinhart Schmelzkopf e Miramar Ship Index.

(Continua)

Rui Amaro

Sem comentários: